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Exportação de carne e os impactos na economia brasileira

Janguiê Diniz – Mestre e Doutor em Direito – Chanceler da UNIVERITAS – Centro Universitário Universus Veritas - Fundador e Presidente do Conselho de Administração do Grupo Ser Educacional– janguie@sereducacional.com
Por: 06/04/2017 - 08:42 - Atualizado em: 06/06/2017 - 13:47
Imagem mostra Janguiê Diniz
Nacionalmente, a Operação Carne Fraca já teria o potencial de causar estragos no mercado interno

Talvez alguns não saibam, mas o Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o maior exportador. As carnes brasileiras são o terceiro maior produto de exportação do País e símbolo de qualidade para mais de 150 países. Porém, esse padrão de qualidade foi questionado com a deflagração da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que revelou esquemas de propinas para alteração de datas de validade, injeção de água nos produtos para aumento de peso e até a mistura de papelão nas carnes.

O escândalo, que se espalhou rapidamente pela imprensa nacional e mundial, deixou dúvidas em relação à qualidade da carne brasileira e levou os principais compradores do Brasil a pedirem suspensão das encomendas dos frigoríficos suspeitos. Como um efeito cascata, a China, União Europeia, Coreia do Sul e Chile anunciaram a suspensão temporária da compra do produto brasileiro.

Nacionalmente, a Operação Carne Fraca já teria o potencial de causar estragos no mercado interno. Afinal, este é um produto de alto valor para as famílias brasileiras e ninguém quer comprar ou consumir uma carne estragada. Esse é o mesmo pensamento que os consumidores externos têm, neste momento, da carne brasileira. O Brasil levou anos para atingir os mercados mais respeitados do mundo – a exportação de carne bovina ganhou força em meados de 2000 – e agora, graças à corrupção que afeta todos os setores do país, o segmento está com a imagem abalada.

No ano passado, as exportações brasileiras do produto somaram mais de US$ 14 bilhões, cerca de R$ 43 bilhões, ou 7,5% do total exportado, ficando atrás apenas do minério de ferro e da soja. Agora, após a deflagração da Operação, o Ministério da Agricultura calcula US$ 1,5 bilhões de dólares de prejuízo. Já a Associação de Comércio Exterior calcula perda de US$ 2,7 bilhões neste ano e a exportação do produto deve cair 20%.

Os dados não devem parar por aí. Segundo estimativa da consultoria LCA consultores, se todos os países fecharem as portas ao produto brasileiro, sendo este o pior cenário, o impacto no PIB pode ser de até 1 ponto porcentual. Ou seja, se a previsão oficial do governo, que deve ser revisada para baixo nos próximos dias, é de crescimento de 1% para 2017, caso a hipótese mais pessimista se confirme, a recuperação econômica do país só começaria a ser vista em 2018.

De tudo o que é produzido anualmente, o Brasil exporta menos de 20% do que produz de carne bovina, 18% de suínos e 30% de frango. Entretanto, o setor agropecuário brasileiro passou anos para conquistar o mercado externo. Algumas décadas atrás, foi preciso muita negociação e atingir altos padrões de qualidade para garantir que a carne nacional estava livre da febre aftosa – doença que atingiu rebanhos de inúmeros países do mundo. Agora, mais uma vez, nosso produto será questionado por sua qualidade. É claro que os países estrangeiros colocarão dúvidas sobre o nosso produto, por questões empresariais e sanitárias.

Dizer que voltaremos à estaca zero nesse setor do mercado exterior é uma posição muito radical, mas este é um caso que irá prejudicar, diretamente, a recuperação econômica brasileira. No entanto, essa crise leva ao mesmo problema que tem feito o Brasil desandar: a corrupção e, neste caso, a necessidade de melhorias nas políticas de avaliação de qualidade dos produtos.

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