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Chuva, descaso e mortes

Fundador e Presidente do Conselho de Administração do grupo Ser Educacional - Presidente do Instituto Êxito de Empreendedorismo
Assessoria de Comunicação Por: 21/07/2022 - 10:34 - Atualizado em: 05/08/2022 - 16:43
O Brasil assistiu, aterrorizado, as cenas de desespero e caos provocadas pelas fortes chuvas que atingiram o Recife e região, em Pernambuco. Por ser a terra onde passei boa parte da vida, muito me sensibilizou ver tantas mortes e pessoas desabrigadas, que perderam literalmente tudo. Para além de um desastre natural, no entanto, o caso expõe o desleixo das autoridades com a população, condição não exclusiva da capital pernambucana, mas que se identifica em diversas outras localidades.
 
Áreas de morro são historicamente suscetíveis a deslizamentos. Também historicamente, as parcelas mais pobres da população foram sendo “empurradas” para os morros e periferias. Essa combinação gerou a ocupação desordenada dessas áreas, um grande perigo para os moradores. Estes, no entanto, muitas vezes não têm para onde ir e se expõem ao risco em nome de uma moradia que possam sustentar. Permanecem ali, esquecidos, abandonados, entregues à sorte. Quando chove, vem o medo. Recentemente, caso parecido aconteceu em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. O absurdo é que se deixe chegar nesse estágio.
 
Programas de moradia deviam priorizar moradores de áreas de risco. Quem vive em morros e encostas deveria receber um local digno para viver em habitacionais destinados a esse fim, em áreas seguras. Cabe às administrações municipal, estadual e federal trabalhar para esse fim. Não é impossível, basta disposição – e o mínimo de humanidade. “Remendar” o problema depois de ocorrido não adianta, pois os estragos já estão feitos. No evento atual, mais de 100 mortes já foram registradas e outros tantos cidadãos continuam desaparecidos. O trabalho de resgate não basta, indenizar as famílias afetadas não basta. É imperativo que o assunto seja tratado de forma antecipada, com vistas a evitar que esses casos ocorram – porque, se nada for feito, eles continuarão a ocorrer.
 
Tragédias como as que ocorreram no Recife ou em Petrópolis – só para citar os casos mais recentes – não são imprevisíveis, nem culpa da natureza. São esperadas, uma vez que a permissividade com a ocupação do solo de maneira errada as propicia. Ir à TV dizer que vai dar “todo apoio” às famílias atingidas tem menos valor, quando se podia ter trabalhado para que elas não fossem afetadas.

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