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Alcoólicos Anônimos: uma luta por mais 24 horas de sobriedade

Nas reuniões, com duração máxima de duas horas, os frequentadores usam apelidos ou codinomes. Não há um cadastro com endereço ou número de telefone, a fim de preservar a identidade e deixá-los o mais à vontade possível
Elaine Guimarães Por: 18/02/2019 - 11:40

Um salão amplo e cadeiras brancas cuidadosamente organizadas. Na mesa à frente, o coordenador do grupo de Alcoólicos Anônimos (AA) toca a campainha, silenciando as conversas paralelas, e inicia uma oração em seguida. Todos os presentes levantam e acompanham a prece. Este é o sinal que indica o começo de mais uma reunião. Após a fala de abertura do coordenador, os homens, que estão no salão com o desejo de abandonar o vício, vão, um a um, ocupando o púlpito para compartilhar com seus colegas experiências de vida e comemorar mais 24 horas de sobriedade. Mesmo com idades e contextos sociais distintos, as histórias são semelhantes, criando uma rede de empatia e apoio mútuo.

Nas reuniões, com duração máxima de duas horas, os frequentadores usam apelidos ou codinomes. Não há um cadastro com endereço ou número de telefone, a fim de preservar a identidade e deixá-los o mais à vontade possível. “Ninguém é obrigado a permanecer no grupo, até porque não é o nosso objetivo. Se estão aqui é porque querem. O alcoolismo é a doença da negação e, por isso, nem sempre continuam por aqui”, afirma Guilherme, que frequenta o A.A há 26 anos, mas, agora, como voluntário.

Ele comenta que perdeu muitos bens materiais e de valor afetivo por conta vício. “Antes de chegar aqui, eu tive muitos problemas com a minha família. Todos começaram a se afastar de mim [...] a princípio, não percebi o impacto que a bebida deixava naqueles momentos”, relembra. Como voluntário, Guilherme explica como funcionam as abordagens para participação no grupo. “As pessoas chegam aqui através de divulgação e abordagens, que ocorrem nas empresas e clínicas de reabilitação. Geralmente, somos convidados a palestrar e compartilhar as experiências do A.A nesses lugares. Ainda há empresas que preferem tratar o profissional, no lugar de demiti-los”, comenta.

Os encontros não ocorrem com a presença de psicólogos ou assistentes sociais. O grupo é regido pela obra “Os Doze passos e As doze tradições” que sugere etapas para a recuperação e convívio dentro da Irmandade e comunidade externa. “Temos este livro, que foi escrito por um dos fundadores dos Alcoólicos Anônimos, como guia para as nossas reuniões. Além disso, como incentivo, distribuímos medalhas que vão mudando a partir do tempo de permanência no grupo”, explica Guilherme.

O grupo é composto majoritariamente por homens. Durante a visita da reportagem, não havia uma mulher sequer na reunião. Com os pés descalços, Djalma compartilha com os colegas a luta contra o alcoolismo. “As pessoas apontavam para mim e diziam que eu seria o próximo filho a morrer por causa da bebida. Meu irmão morreu por causa do alcoolismo e muita gente achou que eu iria para o mesmo caminho. Por muito tempo, vivi na rua. Por isso, estou falando com vocês descalço para lembrar de tudo que passei por causa da bebida”, relembra.

Há seis meses frequentando o A.A, Antônio relata que foi difícil perceber os efeitos negativos da bebida na vida. “Eu fazia sindicato [expressão usada para falar sobre o tempo ingerindo bebida. De acordo com ele, já acordava com vontade de beber e não importava o horário]. Na época, meu pai faleceu, mas eu estava tão entregue a bebida que acabei perdendo o enterro dele. Após alguns dias, fui perguntar a minha mãe quando seria o enterro e ela, bem indignada, contou que já tinha passado”.

Antônio lembra que a relação com o filho ficou bastante comprometida diante do vício. “A gente não se falava direito. Demorou um tempo para eu perceber o estrago que a bebida fazia. Mas, graças a um amigo que falou sobre o grupo, comecei a participar das reuniões e, aos poucos, fui recuperando a minha família. Neste tempo, eu descobri um câncer na garganta, causado pelo consumo excessivo da bebida. Comecei o tratamento e, agora, estou curado”, comemora.

Além dos espaços físicos, distribuídos entre 27 Estados e Distrito Federal, os Alcoólicos Anônimos também possuem um canal de ajuda online, através do Chat ‘Amigo Anônimo’ que funciona no inbox do Facebook e identifica características de alcoolismo e utiliza tecnologia de geolocalização para facilitar a busca de grupos de apoio próximos. Além disso, a organização nacional também disponibiliza Linha de ajuda 24h, cujo número é (11) 3315-9333.

*todos os nomes utilizados são fictícios

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