Clicky

Selecione a cidade
0800 281 9994

Notícias › Carreiras


Dia do gari: "Atuar na pandemia só prova a importância da nossa profissão"

Kennedy Silva, de 24 anos, descreve sua rotina em meio aos problemas ocasionados pelo novo coronavírus
Por: 15/05/2020 - 16:58
Um trabalho fundamental, que exige muito esforço, mas que é pouco reconhecido. É assim que Kennedy Silva, 24 anos, gari no município de Umuarama-PR, descreve sua profissão. E para provar sua tese, ele sugere um exercício de reflexão: "Imagina como o mundo seria se não existissem garis?". Ele mesmo responde: "Eu não consigo imaginar". Neste sábado (16), é celebrado o Dia do Gari no Brasil. A data tem o objetivo de homenagear os profissionais que recolhem todo o lixo deixado pela sociedade e, consequentemente, mantém a higienização urbana. No entanto, Kennedy deseja mais que uma singela homenagem. Ele cobra a valorização da profissão.
 
"No Brasil, a nossa categoria não é nem um pouco valorizada. É que eu entendo que quando você quer valorizar alguém, você presenteia, você investe. Isso é uma forma de valorizar. Muitas vezes, em alguns municípios, o gari nem insalubridade ganha. Nós ganhamos 40% da insalubridade, mas é um serviço periculoso também. Mas a lei só permite que seja pago ou um, ou outro", lamenta o profissional.
 
A desvalorização, segundo Kennedy, também não parte apenas das empresas e da legislação brasileira. Muitas vezes, ele comenta, a população não toma certos cuidados na hora de descartar o próprio lixo e acaba expondo o gari a riscos, como no caso de seringas, vidros e materiais cortantes. "Talvez, se as pessoas tivessem que dar o destino para o lixo delas, elas dariam mais valor à profissão. O que acontece hoje é que as pessoas botam o lixo para fora e dane-se quem vai pegar. Elas não sabem quem pega, ela não vê quem pega. A gente acaba correndo risco de contaminação e de doenças", se queixa o gari.
 
E o que prova a importância da profissão, para Kennedy, é ela está inclusa na lista de serviços essenciais de todos os municípios, estados e do governo Federal. "Atuar na pandemia do novo coronavírus só prova a importância da nossa profissão. Com o pessoal estando em casa, a coleta tem que funcionar de uma maneira ainda mais eficaz. Se estão em casa, o consumo com certeza aumenta. Nossa profissão deveria ser valorizada igual a um médico", comenta, orgulhoso por poder ajudar a sociedade, mas sem deixar de cobrar paridade de direitos.
 
Diário de um gari
 
Com o objetivo de mostrar a importância e os riscos da profissão para a sociedade, Kennedy começou a gravar vídeos sobre seu dia a dia. Esses vídeos rapidamente viralizaram nacionalmente. Com o feito, Kennedy foi entrevistado por grandes emissoras nacionais e ficou rapidamente conhecido. Com a fama, ele criou uma página em uma rede social chamada "Diário de um Gari", onde posta conteúdos diariamente.
 
"Foi um reconhecimento muito grande e a partir daí que eu criei a página. Mas a ideia é mostrar o dia a dia do gari e mostrar o lado que ninguém conhece da profissão", comenta.
 
Apesar de todo esforço que a profissão exige, para Kennedy, no final, o saldo é positivo. "Às vezes você encontra coisas legais, outras que te chateiam. Às vezes está frio demais, chove muito. Não é uma rotina fácil, é muito cansativa. Costumo dizer que a nossa profissão é ingrata, mas muito gratificante", destaca.

Comentários